Queer Lisboa 2015 — Shorts 1
- 1. O RETRATO DE MÓNICA (João Cristóvão Leitão)
- 2. DESEOS (Carlos Motta)
- 3. PRINTEMPS (Jérôme Clément-Wilz)
- 4. SEAHORSES (Julian Curico)
- 5. EPILOGUE (Daniel McIntyre)
A Competição Internacional do QueerLisboa arrancou da melhor forma, numa obra de imersiva e impressionista plasticidade que, formatada a partir das palavras de Jorge Luís Borges e Sophia de Mello Breyner, disserta sobre identidade de género, memória e contrição, desejos e realidade. João Cristóvão Leitão proporcionou um dos melhores momentos da sessão e, provavelmente, de todo o concurso de curtas-metragens.
QueerLisboa's Best Short Film Competition started in the best way possible, with a feature of immersive and impressionist plasticity, channeled by the prose of Jorge Luís Borges and Sophia de Mello Breyner, and lecturing about gender identity, memory and contrition, expectations and reality. João Cristóvão Leitão brought in not only one of the screening's best moments, but also of the entire competition.
As inúmeras acepções do feminino, tanto físicas como espirituais, surgem representadas, num filme sereno e intimista, através da correspondência entre duas mulheres (identificadas como Martina e Nour), que em locais díspares do globo encontram intolerâncias e sofrimento comuns. Realce obrigatório para o trabalho de fotografia de DESEOS, cujas imagens reflectem o pendor confessionário dos sentimentos recriados por Carlos Motta.
The countless meanings of the feminine condition, either physical and spiritual, meet in this serene and intimate film, told through the correspondence between two women (named Martina and Nour) who, in different locations of the world, feel the same bigotries and pains. Kudos for DESEOS' cinematography, providing an ensemble of images that reflects Carlos Motta's recriation of the confessional power of sentimentality.
Atrás da câmara, o realizador torna nossa a sua perspectiva do amor que não conhece desfecho ditoso — e documento mais íntimo que este não pode existir. Da bonomia dos primeiros dias até ao frenesim da separação, Clément-Wilz revela, quase de forma expiatória, o pesar de uma relação que, desde cedo, se viu à mercê de imposições sociais, consciências inquietas e da inevitável ruptura.
Behind the camera, the filmmaker's point of view of a romance that gets no happy outcome becomes ours — and there is nothing more intimate than this. From the graceful first days to a frenzy separation, Clément-Wilz reveals, in an almost atoning fashion, the grief about a relationship that, from early on, was threatened by social impositions, restless minds and of the inevitable breakup.
No que, ao início, aparenta ser uma simples narrativa sobre dois homens apaixonados, Julian Curico rapidamente transporta a plateia para o território do psicologicamente perturbador: a sugestão da impotência e do recalcamento(?) de uma infância de abusos são fontes de temor apenas contidas pelo conforto de um abraço. SEAHORSES é uma das obras que, na presente Competição, maior poder de reflexão conseguirá suscitar.
From what looks like, in the beginning, as a mere story about two men in love, is quickly carried by Julian Curico into a mentally disturbing level: the innuendos concerning sexual impotence and repressed(?) childhood traumas are fearful sources that can only be contained by the comfort of an embrace. Among this year's Competition, SEAHORSES is definitely a title that will arise a lot of consideration.
A desconstrução da memória a partir da solarização de registos em 16mm, ou como a transgressão reclamada por um festival queer se revela, também, na "transgressão" da própria imagem. O último tomo da série Lion, que Daniel McIntyre desenvolve desde 2013, é exímio no confronto — que perpassa para o espectador — entre as imagens e a voz-off de uma obra de sinopse, estética e concretização totalmente experimentais.
The deconstruction of memory through the solarization of 16mm prints, or how the transgression claimed by a queer film festival also reveals itself in the image's "own transgression". The last chapter in the Lion series, developed by Daniel McIntyre since 2013, is outstanding in the conflict — immediately apprehended by the audience — between the screen and the voice-over of a title with an absolute experimentalist plot, aesthetics and materialization.
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